3.23.2007

A questão do voto

Às vésperas das eleições passadas, uma coisa me chamou a antenção. Meu vizinho de 18 anos, o qual deveria no mínimo ter a conciência sobre o que representa uma eleição, tinha nas mãos um panfleto de propaganda de partido político que acabara de pegar no chão, e dizia de peito cheio: "Acabei de escolher em quem vou votar". Não é só o meu vizinho que escolhe seus futuros governantes ao acaso, ou por graça. Um exemplo disso, é a eleição expressiva do agora deputado Clodovil, apresentador de TV. Sem nenhuma história política e declaradamente sem projetos para o país, pode ser encarado como voto de protesto ou como voto de zombaria, minha alternativa favorita. Após esse epsódio, me coloquei a questionar o sistema eleitoral brasileiro: Se muitos não estão nem aí para a política, para seus representantes e consequentemente para sua representatividade enquanto cidadão, por que não tornar o voto opcional ?
Apartir do momento que não houver mais a obrigatoriedade de se votar, só quem realmente tiver conciência de que seu voto é importante, e der seu voto pensando no futuro do país, e não simplismente por cumprimento de uma obrigação, mutias vezes dita "incomoda", irá comparecer às urnas. Em alguns países como a Venezuela, o voto não é obrigatório, o que não prejudica o pluralismo político. O que muda, é que os venezuelanos são muito mais concientes politicamente que os brasileiros. Só vota quem quer, e com isso, são eleitos melhores políticos. Prova disso, é o índice de crescimento do país, que gira em torno de 7,5% ao ano (segundo a Folha).
A não obrigatoriedade do voto, é um fator que contribui para o crescimento político. Os que optam por votar, tem ampliado seu poder de decisão, frente que 1000 votos são mais significativos em um colégio eleitoral de 15 milhões de eleitores do que em uma votação que conta com 115 milhões de eleitores, como o Brasil. Com o voto não obrigatório, e consequentemente com a queda do número de eleitores,as centrais sindicais e movimentos populares por exemplo, os quais contam com eleitores concientes, que votam pela melhoria das condições para suas classes, obteria muito mais expressividade. Será que a elite dominante tem medo disso ?
A CUT por exemplo, conta com um universo de 22,45 milhões de filiados (segundo dados da UNICAMP). Não é dificil imaginar que desses 22,45 milhões, 15 milhões continuariam votando mesmo com a não obrigatoriedade do voto. Já pensando no "povão" que vota só pela obrigatoriedade, não é dificil imaginar uma queda de mais de 50% no número de votantes. Os que controlam o poder tem medo dos que votam por conciência ? Acho que sim.
Com a não obrigatoriedade do voto, outros beneficiados seriam as mulheres. Com maioria do eleitorado feminino, nunca tivemos um presidente da república mulher. Isso pode ser um reflexo da qualidade do voto daqueles (ou daquelas) que só votam por votar. Que tal darmos uma chance à quem realmente quer mudar, simplismente oferecendo a oportunidade de não votar à quem assim queira ?

Um artigo bem legal sobre o mesmo assunto que escrevi:
http://www.direitonet.com.br/artigos/x/46/55/465/

3.22.2007

Enquanto não houver igualdade, a burguesia não terá paz

Somos sufocados dia após dias pelas tristes notícias diárias das novas vítmas da violência. Estudantes baleados, agentes do estado mortos em confrontos, crianças que só estavam no lugar errado na hora errada e "bandidos", que deixaram filhos órfãos. Quando vejo casos como o do Sandro, que sequestrou o tão famoso "ônibus 174", querendo apenas contar sua história e mostrar sua revolta com a sociedade, me coloco à pensar: como deve-se pensar em combate ao crime ? com repressão ou prevenção?
O crime nada mais é do que a busca de melhores condições de vida por alguns, mediante suas oportunidades. Assim como um jovem burguês que estudou toda sua vida em instituições particulares de ensino, com os melhores professores, material didático e infraestrutura tenderá a buscar seu sustento nas oportunidades abertas pela sua formação acadêmica, um adolescente que cresceu em uma favela, sem as mínimas condições de conforto, como roupas novas, uma casa confortável e limpa, sem uma escola de qualidade, com professores comprometidos, material didático e infraestrutura, e com a convivência diária com o tráfico de drogas e os contrastes da desigualdade social, tão presentes em nosso país, poderá optar entre o subemprego, mal remunerado e com condições degradantes ou pelo pelo crime, meio dito "fácil" de vida, com o qual muitos sustentam suas famílias.
É de costume da sociedade brasileira, um tanto quanto elitista (o que não quer dizer que seja maioria elite, somente tem o mesmo ponto de vista dela), subjulgar os que buscam o caminho "mais fácil". Mais levanto uma questão: se ao invés das oportunidades que o leitor encontrou em seu caminho, tivesse optar por "selecionar" o lixo de aterros sanitários ou vender maconha, qual seria sua escolha? Essas opções, são muitas vezes as únicas de muitas crianças e adolescentes que cresceram em famílias desestruturadas, sem o apoio dos pais ou do estado, e que precisam sobreviver. Não é dificil imaginar que muitos deles escolham entrar para o crime, dificil é imaginar que alguém se sujeite à revirar toneladas de lixo (que inclui restos alimentícios, lixo hospitalar, detritos vindos da higiêne pessoal de milhares de pessoas e diversas outras coisas que deixariam qualquer um de estômago revirado).
Com um olhar crítico sobre o que leva um jovem a escolher o crime, é fácil apontar a solução para o que hoje chamamos de "crise da segurança". Não é aumentando o efetivo policial que conseguiremos conter a criminalidade, tão pouco é fornecendo melhores armas à polícia que se solucionará o problema. Talvez assim, declare-se de uma vez a guerra cívil que estamos prestes à viver. Talvez se os nossos representantes se preocupassem um pouco mais com a qualidade de vida dos 100 milhões de brasileiros que vivem na miséria, se a classe política brasileira desse uma tregua nas disputas por poder e desse melhores condições de formação para as crianças do Brasil que não podem pagar por uma escola, a violência pudesse ser contida.

3.21.2007

A hipocrisia do "caos aéreo"

Nos últimos meses, estamos sendo bombardeados pelas mais recentes notícias sobre o chamado "caos aéreo", ou simplismente atraso nos vôos. Quando estou indo trabalhar, meu rádio sintonizado na Jovem Pan (estou citando sem a mínima intenção de promover a rádio, muito pelo contrário), não fala de outra coisa, sem ser a crise dos controladores de vôo. Dentre as notícias do "caos", pelo menos uma vez por semana, pude notar que algum figurão do transporte aéreo é demitido, ou se não o governo libera verbas para "conter a crise".
Lembrando que estamos tratando do Brasil, um país que acumula o título de segunda pior distribuição de renda do mundo há vários anos, torna-se um tanto quanto complicado discutir-se com tanta veemência o atraso no transporte de uma elite minoria. De uma elite minoria ? sim. Uma passagem de avião de São Paulo à Brasilia, custa em média R$400, valor superior aos ganhos mensais da grande maioria dos trabalhadores brasileiros (cerca de 51% vivem com menos de um salário mínimo ao mês), fazendo do transporte aéreo um privilégio das elites.
Tendo em vista dados como os acima, soa um tanto quanto ridícula toda a atenção dada pela grande mídia, bem como pelo Governo Federal à crise aérea. Se os "representantes do povo" se importassem tanto com a quantidade de arroz e feijão que os milhões de brasileiros mais pobres vão ter para comer diariamente, quanto com a pontualidade dos vôos oferecidos aos ricos, com certeza a muito a situação já teria mudado.
Se tantos funcionários de alto-escalão do INSS quanto os dos transportes aéreos tivessem sido removidos devido à situação dos órgãos, talvez o déficit da previdência já estaria sanado.
A pavorosa "crise dos controladores de vôo" torna-se ainda mais hipocrita, quando toma-se nota de casos como o da milionária brasileira que mandou fazer uma pistinha particular e contratar seu próprio controlador de vôo para sua baladinha de fim de ano em Angra dos Reis.
Até quando o povo brasileiro que vive sob as condições adversas da combinação de um histórico péssimo governo (muito preocupado com as elites, e pouco com o povo) e da milenar má distribuição de renda, vai se conformar com a merda que vivem, enquanto a elite demite até comandantes gerais da Força Aérea, mediante qualquer problema que afete seu padrão de vida estravagante ?