3.21.2007

A hipocrisia do "caos aéreo"

Nos últimos meses, estamos sendo bombardeados pelas mais recentes notícias sobre o chamado "caos aéreo", ou simplismente atraso nos vôos. Quando estou indo trabalhar, meu rádio sintonizado na Jovem Pan (estou citando sem a mínima intenção de promover a rádio, muito pelo contrário), não fala de outra coisa, sem ser a crise dos controladores de vôo. Dentre as notícias do "caos", pelo menos uma vez por semana, pude notar que algum figurão do transporte aéreo é demitido, ou se não o governo libera verbas para "conter a crise".
Lembrando que estamos tratando do Brasil, um país que acumula o título de segunda pior distribuição de renda do mundo há vários anos, torna-se um tanto quanto complicado discutir-se com tanta veemência o atraso no transporte de uma elite minoria. De uma elite minoria ? sim. Uma passagem de avião de São Paulo à Brasilia, custa em média R$400, valor superior aos ganhos mensais da grande maioria dos trabalhadores brasileiros (cerca de 51% vivem com menos de um salário mínimo ao mês), fazendo do transporte aéreo um privilégio das elites.
Tendo em vista dados como os acima, soa um tanto quanto ridícula toda a atenção dada pela grande mídia, bem como pelo Governo Federal à crise aérea. Se os "representantes do povo" se importassem tanto com a quantidade de arroz e feijão que os milhões de brasileiros mais pobres vão ter para comer diariamente, quanto com a pontualidade dos vôos oferecidos aos ricos, com certeza a muito a situação já teria mudado.
Se tantos funcionários de alto-escalão do INSS quanto os dos transportes aéreos tivessem sido removidos devido à situação dos órgãos, talvez o déficit da previdência já estaria sanado.
A pavorosa "crise dos controladores de vôo" torna-se ainda mais hipocrita, quando toma-se nota de casos como o da milionária brasileira que mandou fazer uma pistinha particular e contratar seu próprio controlador de vôo para sua baladinha de fim de ano em Angra dos Reis.
Até quando o povo brasileiro que vive sob as condições adversas da combinação de um histórico péssimo governo (muito preocupado com as elites, e pouco com o povo) e da milenar má distribuição de renda, vai se conformar com a merda que vivem, enquanto a elite demite até comandantes gerais da Força Aérea, mediante qualquer problema que afete seu padrão de vida estravagante ?

Um comentário:

Iuri Botão disse...

Eu até entendo a sua revolta com a mídia e o discurso é realmente bonito e correto. Mas aí vem aquelas pequenas coisas, que explicam mas não justificam: o transporte aéreo é sim de elite, mas quem é que banca a mídia?
Acho que a resposta a essa pergunta explica metade das suas reclamações no post, mas apesar de ser a verdade, isso não torna nada mais justo.
Abraço