3.22.2007

Enquanto não houver igualdade, a burguesia não terá paz

Somos sufocados dia após dias pelas tristes notícias diárias das novas vítmas da violência. Estudantes baleados, agentes do estado mortos em confrontos, crianças que só estavam no lugar errado na hora errada e "bandidos", que deixaram filhos órfãos. Quando vejo casos como o do Sandro, que sequestrou o tão famoso "ônibus 174", querendo apenas contar sua história e mostrar sua revolta com a sociedade, me coloco à pensar: como deve-se pensar em combate ao crime ? com repressão ou prevenção?
O crime nada mais é do que a busca de melhores condições de vida por alguns, mediante suas oportunidades. Assim como um jovem burguês que estudou toda sua vida em instituições particulares de ensino, com os melhores professores, material didático e infraestrutura tenderá a buscar seu sustento nas oportunidades abertas pela sua formação acadêmica, um adolescente que cresceu em uma favela, sem as mínimas condições de conforto, como roupas novas, uma casa confortável e limpa, sem uma escola de qualidade, com professores comprometidos, material didático e infraestrutura, e com a convivência diária com o tráfico de drogas e os contrastes da desigualdade social, tão presentes em nosso país, poderá optar entre o subemprego, mal remunerado e com condições degradantes ou pelo pelo crime, meio dito "fácil" de vida, com o qual muitos sustentam suas famílias.
É de costume da sociedade brasileira, um tanto quanto elitista (o que não quer dizer que seja maioria elite, somente tem o mesmo ponto de vista dela), subjulgar os que buscam o caminho "mais fácil". Mais levanto uma questão: se ao invés das oportunidades que o leitor encontrou em seu caminho, tivesse optar por "selecionar" o lixo de aterros sanitários ou vender maconha, qual seria sua escolha? Essas opções, são muitas vezes as únicas de muitas crianças e adolescentes que cresceram em famílias desestruturadas, sem o apoio dos pais ou do estado, e que precisam sobreviver. Não é dificil imaginar que muitos deles escolham entrar para o crime, dificil é imaginar que alguém se sujeite à revirar toneladas de lixo (que inclui restos alimentícios, lixo hospitalar, detritos vindos da higiêne pessoal de milhares de pessoas e diversas outras coisas que deixariam qualquer um de estômago revirado).
Com um olhar crítico sobre o que leva um jovem a escolher o crime, é fácil apontar a solução para o que hoje chamamos de "crise da segurança". Não é aumentando o efetivo policial que conseguiremos conter a criminalidade, tão pouco é fornecendo melhores armas à polícia que se solucionará o problema. Talvez assim, declare-se de uma vez a guerra cívil que estamos prestes à viver. Talvez se os nossos representantes se preocupassem um pouco mais com a qualidade de vida dos 100 milhões de brasileiros que vivem na miséria, se a classe política brasileira desse uma tregua nas disputas por poder e desse melhores condições de formação para as crianças do Brasil que não podem pagar por uma escola, a violência pudesse ser contida.

2 comentários:

Iuri Botão disse...

Seu texto é lindo cara, mas a sua visão poética do mundo, na minha opinião, não condiz com a realidade.
Explico: o crime não é a única opção, tem gente que nasce pobre e dá certo sim! Gente que passa mais da metade do dia trabalhando pra ganhar 500 reais (quando ganha tudo isso), e a outra metade estudando, aproveitando o tempo que seria de dormir para estudar para provas, e essa gente vai pra frente sim! Não vou dizer que esse papo de igualdade não tem fundamento, é claro que tem, mas justificar o crime através da desigualdade social soa muito sujo pra mim, afinal, o crime é SIM o meio de vida mais fácil pra quem é pobre, não existe esse negócio de falta de opção.
Posso ser massacrado se alguns comunistas lerem esse meu comentário, mas é o que eu penso, até porque tenho visto na TV e nos jornais cada vez mais filhinhos de papai de classe média comandando quadrilhas e ganhando dinheiro, levando uma vida tranquila, através do crime. E além do mais, se fosse só por falta de opção, os traficantes parariam de traficar quando tivesse ganhado uma grana suficiente pra largar essa vida pra estudar e constituir família. Vai perguntar pro Fernandinho Beira-Mar se ele não teve oportunidade de estudar.

Rafael Lacerda disse...

Botão... Só que ae não entra só a falta de opção... entra também a revolta com a desigualdade, a falta de oportunidades existe sim, tente arrumar um emprego legal agora sem falar que você tá fazendo facul, e sem ser concurso (porque quem estudou em escolas ruins a vida toda, dificilmente vai conseguir competir com pessoas que inclusive tem ensino superior completo, e estão tentando vagas para ensino médio), é bem dificil fio... Não é querer justificar o crime, bem porquê axo que crimes hediondos devem sim ser punidos, matar não é justificável pela desigualdade... Só que não é dando mais armas pra polícia que vão conseguir diminuir a criminalidade. Na Inglaterra, a polícia que faz patrulha nas ruas anda de espada e só. E lá não tem tanta merda que nem aqui. Lá tem o seguro social, que não deixa ninguém passar fome, lá mesmo quem é pobre tem como sustentar sua família, tem como estudar em uma escola boa (as escolas públicas de países desenvolvidos são boas, ou os países são desenvolvidos porque a educação é tratada como prioridade, como você preferir).